Safra é encerrada com produção recorde de etanol, por Agroanalysis/FGV
Publicado em 13/06/2019 10:59
A Moagem de cana-de-açúcar da safra 2018/19 está encerrada nas duas macrorregiões produtoras do Brasil, o Centro-Sul e o Norte-Nordeste. A safra oficial na região Centro-Sul terminou em 31 de março de 2019. Já o Norte-Nordeste, com a moagem também encerrada, entra no período de entressafra, que perdura até 31 de agosto. A comparação dos volumes produzidos na safra 2018/19 àqueles observados na safra anterior é reveladora.
Nacionalmente, a safra 2018/19 apresentou uma redução na oferta de ATR de 2,1%, passando de 87,15 milhões de toneladas, em 2017/18, para 85,31 milhões de toneladas. A moagem de cana caiu 3,2%, passando de 641,1 milhões de toneladas, em 2017/18, para 620,71 milhões de toneladas. A produção de açúcar foi reduzida em 24,8%, atin- gindo 29,02 milhões de toneladas, e a produção de etanol foi elevada em 18,8%, com um recorde de 33,09 bilhões de litros, sendo 12,8% de redução no anidro e 40,5% de aumento no etanol hidratado. O mix para açúcar caiu 10,8%, e o rendimento industrial subiu 1,1%.
A pergunta que fica é: o que teria acontecido com o preço do açúcar no mercado internacional caso os produtores brasileiros não tivessem reduzido a produção de açúcar em 9,56 milhões de toneladas de açúcar? Certamente, o impacto sobre os preços mundiais teria sido devastador. Essa é a grande vantagem da diversificação da produção sucroalcooleira do Brasil, que tem oferecido um enorme impacto estabilizador sobre os preços do açúcar e do etanol no mercado mundial.
No ano comercial de 2017/18 (outubro a setembro), a DATAGRO estima que o excedente mundial foi de 8,20 milhões de toneladas de açúcar cru equivalente. Esse excedente foi gerado, em grande parte, pelos aumentos de produção observados na Índia, na Tailândia, na União Europeia, no Paquistão, na Rússia e na Ucrânia, e aos mercados protegidos dos EUA, da União Europeia, da Rússia, da China e do Japão, para citar os de maior expressão de consumo. A situação ficou ainda mais agravada pelos subsídios à exportação do Paquistão e da Índia.
Para o ano comercial de 2018/19 (outubro a setembro), a DATAGRO estima um ligeiro superávit de 0,48 milhão de toneladas de açúcar cru equivalente. A redução da produção no Brasil foi determinante para limitar o efeito do excedente no balanço mundial.
A contrapartida foi a elevação na produção de etanol, que, em 2018/19, atingiu o volume recorde de 33.092,685 milhões de litros, sendo 32.301,254 milhões de litros de etanol de cana, e 791,431 milhões de litros de etanol de milho. O recorde anterior havia sido registrado na safra 2015/16, quando atingiu 30.421,561 milhões de litros. Desta maneira, os produtores brasileiros, em apenas um ano, aumentaram a produção de etanol em 5,23 bilhões de litros e permitiram ao Brasil reduzir a importação de gasolina, oferecendo uma enorme contribuição para a balança comercial.
Graças ao avanço do consumo de etanol combustível, a importação de gasolina A (pura) recuou, em 2018, para um volume próximo ao observado em 2016, com 2,954 bilhões de litros, e um dispêndio de US$ 1,433 bilhão. No ano de 2017, a importação de gasolina pura havia atingido 4,470 bilhões de litros, com dispêndio de US$ 1,731 bilhões. Em 2016, a importação foi de 2,914 bilhões de litros, com dispêndio de US$ 915,08 milhões.
Nos dois primeiros meses de 2019, o consumo de etanol hidratado tem se mantido em um ritmo acelerado, subindo 37,0% em relação ao mesmo período de 2018.
Conforme estimativa da DATAGRO, o estoque de etanol hidratado era estimado para ser suficiente para atender o consumo doméstico até meados de abril. Com a produção registrada no final de março e no começo de abril, o abastecimento está garantido, mas o acelerado ritmo de consumo tem levado os produtores a manterem a infraestrutura de carregamento em operação de 24 horas para escoar a produção atendendo a demanda.
Por esse motivo, é esperado que o mix de produção seja bastante alcooleiro no início da safra 2019/20. A elevação do preço do etanol hidratado nas primeiras semanas de abril reforça a visão de que a orientação do mix será alcooleira, pelo menos nos primeiros meses de safra, ou enquanto durar o preço mais compensador para o etanol. No início da safra, o diferencial de preço de equivalência entre o etanol hidratado e o açúcar cru a granel VHP (de alta polarização) de exportação voltou a apresentar um nível novamente favorável ao hidratado. Segundo o levantamento de preços da DATAGRO, o etanol hidratado estava cotado, na primeira quinzena de abril, a R$ 2.341,67 por metro cúbico, com impostos. Segundo cálculos da DATAGRO, para uma usina localizada em Ribeirão Preto, o preço de equivalência do hidratado era, portanto, de 15,40 centavos de dólar por libra-peso de açúcar cru equivalente FOB Santos, enquanto o VHP de exportação, incluindo o prêmio/desconto do mercado à vista e o prêmio de polarização, estava cotado a 13,35 centavos de dólar por libra-peso.
A expectativa para a safra 2019/20 é de que a moagem de cana recupere parcialmente a queda observada na safra anterior, por meio da recuperação da produtividade perdida, e que a produção de etanol pelo menos repita a performance observada na safra 2018/19. Os preços do petróleo e da gasolina no mercado internacional têm sinalizado uma condição de competitividade para o etanol de cana produzido no Brasil bastante interessante, pelo menos nos estados de maior consumo, como São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
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Por: Plinio M. Nastari
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