14/07/2014 06h59
- Atualizado em
14/07/2014 06h59
Descendentes de alemães lembram perseguição no RS na 2ª Guerra
No estado, casas, lojas e igrejas foram os principais alvos da revolta.
Famílias inteiras precisaram fugir e se refugiar em comunidades próprias.
Os imigrantes alemães foram perseguidos e muitos acabaram sendo torturados. Famílias inteiras precisaram fugir e se refugiar em comunidades próprias, conhecidas como colônias e que até hoje mantêm a cultura germânica. A língua alemã e os cultos luteranos foram proibidos. A torre de uma igreja em Cerrito, que na época pertencia a Pelotas, na Região Sul do estado, foi derrubata com dinamites.
em 1942 (Foto: Reprodução/RBS TV)
Em Pelotas, o clima de medo se espalhou pela cidade. Muitas famílias deixaram suas casas, que foram invadidas. Os moradores pegaram poucos alimentos, alguns cobertores e fugiram para o mato. Era inverno, fazia frio, e algumas pessoas permaneceram escondidas em matagais por até duas semanas.
"No mato, eles tinham que ficar em silêncio total. Na época, as famílias tinham muitos filhos. Precisavam abafar o som das crianças para elas não chorarem. Todos tinham muito medo de serem pegos", relata a agricultora Glessi Vellar Hepp.
Os assentamentos construídos pelos imigrantes alemães perseguidos transformaram-se em colônias penitenciárias. Qualquer descendente que quisesse se deslocar para outro local precisava comparecer na delegacia e pegar um salvo-conduto. "O direito de ir e vir dessas pessoas foram confinados e aprisionados pela polícia. Houve uma criminalização dos alemães", comenta José Plínio Fachel, historiador autor de uma tese de doutorado sobre a época.
Depois da guerra, o governo brasileiro reconheceu e indenizou algumas famílias. A viúva de um dos comerciantes que perdeu praticamente tudo diz que o discurso do marido era de paz. "Ele nunca falou em ódio. Só contava que poderia ter salvado mais coisas", relembra Hilma Tessmann. A bisneta do comerciante Pedro Steffen Munsberg relata que o bisavô foi preso e torturado dentro de uma igreja sob acusação de transportar armamentos de origem alemã até o local. "Ele era a única pessoa na época que possuia um caminhão, que servia para carregar mercadorias e também para o transporte de pessoas", conta Adriana Munsberg. A família ainda tenta provar na Justiça que Pedro foi morto após ter sido torturado.
"O Rio Grande do Sul viveu uma onda de barbárie. Os descendentes de alemães que não seguiam a cultura e o catolicismo eram chamados de hereges. Isso até hoje reflete em um atraso econômico para a região Sul do estado", conclui o historiador José Plínio Fachel.
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